segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Odio ou Amor "cap 10"

Torci o nariz. 
- Não, meu amigo já está me ajudando. – Bufei. 
- Porque garotos são tão idiotas? Eu sou uma menina, não um leão. Eu não vou morder você! – Ela disse num tom de voz óbvio e meu queixo quase caiu no chão. Ela era menor que eu, como podia falar daquele jeito? Fiquei sem resposta, e ela riu. 
- Mas... Mas... – Gaguejei – Essa é a casa do meu amigo!
- Eu sou irmã do seu amigo. – Ela riu – Você é o Zaza, né? Minha mãe falou. Cadê o Louis, ele não vem hoje? Ele escondeu minha boneca, eu tenho certeza! Mas ele vai pagar, vai pagar muito caro e... – A pequena criatura disparou a falar e tudo o que eu fiz foi ficar com cara de bobo, sem conseguir interromper. Menina estranha aquela.
- Achei uma maior, Zaza! – Hazza chegou – Ah, já se conheceram? Essa é a Alice, minha irmã.
- Lice, me chama de Lice! – Ela resmungou e eu ri.
- Que seja. – Hazza murmurou.
- Posso ajudar vocês Hazza? – Ela perguntou e ele deu de ombros, fazendo-a dar pulinhos animados e se juntar a nós.

- Louis! – Vi Lice correr em nossa direção e pular em Tomlinson. Ele pareceu sem graça, mas a abraçou.
- Hey, Lice! – Respondeu sorridente.
- Oi, Zaza! – Ela disse feliz e eu dei um passo pra trás, pra evitar que ela fizesse o mesmo comigo. Não que eu achasse que ela faria, ela parecia gostar bem mais de Louis. Mas só pra garantir. – O Hazza está no quarto dele!
- Valeu, baixinha! – Louis disse e ela fez careta, o que me fez rir.
- Ei, eu tô quase da sua altura, Tomlinson! – Ela bufou e cruzou os braços, caminhando até a cozinha – Ô mãe, o Louis me chamou de baixinha de novo! – Ela dizia com a voz chorosa e nós gargalhamos, subindo para o quarto.
- Hey Hazza! – Dissemos ao entrar no quarto, e ele sorriu.
- E aí! – Disse estendendo a mão para nosso novo jeito de cumprimentar. Algo como bate as mãos, gira pra lá e pra cá e faz um barulhinho com a boca. Afinal, todos os garotos e turmas legais tem que ter seu próprio toque. – Vocês acreditam que a minha irmã e as amigas dela conseguiram fazer um boneco de neve? Bem melhor que o nosso!
- Ah, fala sério! Elas são garotas de nove anos! – Respondi. E daí que eu só tinha dez, elas tinham NOVE. Pirralhas.
- A Lice consegue tudo o que ela quer, Malik! – Hazza riu. – Meu pai veio aqui no fim de semana e terminou a casa da árvore! – Ele disse empolgado.
- Estamos esperando o que? Vamos pra lá! – Louis saltou da cama e nós descemos as escadas correndo.
Lice estava no jardim balançando numa árvore em frente a enorme casa de madeira que o pai deles havia feito. Ela sorriu ao nos ver.
- Vão fazer o que? Posso brincar com vocês? A Beta não vem mais... – Ela fez bico e Hazza riu.
- Casa da Árvore. – Ele disse gargalhando. Lice fez uma careta e depois fechou a cara, Louis olhava sério. E eu com cara de nada.
- Vou ficar aqui mesmo. – Ela respondeu fazendo bico.
- Por quê? – Ouvi minha própria voz perguntar, sem eu nem ter pensado antes. Ela levantou o olhar, sem responder nada.
- Porque ela tem medo! – Hazza apontou e começou a rir, e eu comecei a rir junto com ele. Medo de ir numa casa da árvore? Que garota besta!
- Gente, deixem ela... – Louis disse baixo e eu vi uma lágrima escorrer pelo rosto de Lice.
- Medrosa! – Eu disse rindo e bati minha mão na de Hazza.
- Eu odeio você, Zayn Malik. Meu irmão é um idiota depois que te conheceu. Você é um idiota – Ela chorava – Fiquem com sua casa da árvore estúpida. Eu odeio todos vocês! – Ela saiu correndo em direção a casa, e parou na escadinha, virando de frente – Menos o Louis, eu não odeio o Louis! – Disse chorando e correu pra dentro, enquanto nós ainda ríamos.

Acordei num pulo. Meus olhos demoraram pra se acostumar com a luz do abajur, e eu esfreguei os olhos.
- É por isso que ela me odiava? – Lembrei, confuso, sem saber se aquela imagem fazia parte de um sonho ou de uma realidade distante. Meu quarto estava vazio, nenhum sinal de que Lice tinha passado por lá. Olhei para o relógio, quase quatro da manhã, eu tinha cochilado por vinte minutos. Passei a mão pelo cabelo, revoltado, e me joguei nos travesseiros. Estava claro: Ela não iria aparecer.

Londres, 2007.

Era triste ser um calouro de colegial. Nos primeiros dias de aula, era tudo novo, estávamos empolgados e tudo mais. Nunca tinha visto tantas garotas bonitas concentradas em um só lugar. Mas quando você é novo na High School e não é exatamente como os jogadores de futebol veteranos, tudo perde a graça bem rápido. Garotos de quinze anos, magrelos e com tendências roqueiras não agradam as líderes de torcida. Talvez quando tivermos dezesseis... Coloquei os fones de ouvido e fiquei observando a movimentação da escola. Vi alguns garotos do terceiro ano pararem suas idiotices por dois segundos e virei o pescoço pra ver o que eles viam. Lice e suas amigas estavam entrando no pátio do colégio, que nem naqueles filmes americanos, desfilando. Parecia que todo mundo abria espaço pra que elas passassem. Porra, elas também são calouras! Quando cruzaram ao lado dos playboys do colégio, um deles a segurou pelo braço. Eu não estava perto o suficiente pra entender o que diziam, sei que ela sorriu idiotamente pra qualquer merda que aquele acéfalo disse. Os dois riram e ela continuou seu caminho, enquanto ele e seus quatro amigos encaravam sua bunda.
- Hey dude! – Hazza chegou do meu lado e eu chacoalhei a cabeça com força.
- Hey.
- Tava olhando o que? - Sua irmã, aquela nojenta gostosa! Quase respondi, mas respirei.
- Umas garotas que estavam passando, só isso. – Murmurei, rolando os olhos.

- Hazza! Hazza! Hazza! – Lice chegou pulando e eu arqueei uma sobrancelha, assim como Niall. Ele também não estava acostumado com o jeito estranho daquela garota.
- Meu Deus, vai chover hoje! A Alice Styles passando pela mesa dos losers com o refeitório lotado, wow! – Bati palmas e ela levantou o dedo do meio, sem olhar pra mim. Ri baixo.
- O que aconteceu, sua doida?
Hazza perguntou rindo e Louis encarava interessado. Duas amigas dela estavam paradas logo atrás. Roberta, que era simpática, vizinha deles desde sempre, e Gabriella, uma garota meio maluca que se juntou a elas no colégio. A outra nojentinha, a tal da Bruna, não se deu ao trabalho de chegar perto de nós, estava na mesa dos populares, olhando para o nosso lado com desdém.
- Você está olhando para a mais nova integrante da equipe de líderes de torcida desse colégio! – Lice pulou animada junto com as amigas. Louis riu.
- Você passou? – Ele perguntou empolgado e Lice riu. A amiga dela deu um tapa na cabeça de Tomlinson.
- Claro que não, Tomlinson, ela só está empolgada porque perdeu! – Gabriella disse gargalhando e ele fez careta – Eu tô brincando, bobinho! – Ela sorriu e Hazza e Louis também.
- Parabéns! – Hazza disse tentando parecer empolgado, mas parecia um pouco preocupado. Muito provavelmente porque sua irmãzinha querida viraria uma biscate como todo o resto das cheerleaders. Mas eu desconfiava que ela já era assim.
- Obrigada, chuchu! – Lice sorriu. – E nem venha pedir os telefones das minhas companheiras de equipe, Malik. Conheço sua tara por líderes de torcida, mas gosto bastante daquelas garotas para desejar algum mal a elas. – Ela disse com uma piscadinha e os garotos gargalharam.
- Outch! – Louis sacaneou.
Apoiei as duas mãos na mesa e inclinei meu corpo pra frente, aproximando meu rosto do dela. Lice fez o mesmo, queria mostrar que não tinha medo de mim, mas deveria. Vi os veteranos amigos dela se aproximarem e acariciei seu rosto.
- Mas que mal eu posso oferecer a elas, docinho? – Disse sorrindo o primeiro apelido infeliz que veio na minha cabeça – Elas já vão ter que aturar você, qualquer coisa depois disso é lucro! – Ri alto e os garotos também. Lice abriu a boca, mas não emitiu nenhum som. Sorri vitorioso.

Minha relação como Alice parecia ficar cada dia pior. Não que eu realmente me importasse com isso, afinal, infernizar a vida da docinho (ela odiava esse apelido, então eu passei a usar sempre) era um dos meus hobbies favoritos. O único problema é que ela parecia gostar de arruinar minha vida também, então eu sempre me via em situações complicadas por causa daquela garota. Eu odiava admitir, mas ela era esperta. Nossa guerra nunca teria fim.
- Zaza, ME LARGA! – Ela berrou enquanto eu a prendia entre minhas pernas na cama, e segurava seus braços – SAI DE CIMA DE MIM!
- Você vai ter que retirar o que disse. Você foi longe demais, porra! – Gritei, sentia meu rosto queimar. Acho que nunca tive tanta raiva de alguém como naquele momento. Eu estava segurando seus pulsos porque se ela não fosse uma garota, meus braços já teriam parado no seu rosto, num murro bem dado. Ela merecia.
- Eu não vou retirar porra nenhuma! – Ela parecia gritar mais alto do que eu – Eu estou pouco me lixando pro que vão achar de você!
- Mas é mentira, caralho! – Apertei mais seus pulsos, e vi Lice morder o lábio para não gritar. Tentei afrouxar um pouco minhas mãos – Eu não broxei porra nenhuma!
Então ela começou a rir descontroladamente. Senti meu coração acelerar em um nível que poderia ser escutado a quilômetros. Bom, eu estava ficando com uma das líderes de torcida, a Janet. Ela era muito gostosa – Burra como uma porta, mas não é preciso muita inteligência para as intenções que eu tinha com ela – E a maldita da garota apareceu na minha casa no dia do aniversário da minha mãe. Estava cheio de parentes lá, e sabe... Ela queria um pouco mais do que eu conseguiria oferecer com toda a minha família no andar de baixo. Eu simplesmente a dispensei, o que não significa que eu broxei. Mas não, é claro que a Alice Styles fofoqueira espalhou para o colégio inteiro que eu era um broxa. Ótimo. Eu poderia matá-la ali mesmo.
- Para de rir! – Berrei e ela tentava recuperar o fôlego, mas não conseguia. Comecei a torcer pra ela ter um colapso e morrer engasgada. De verdade.
- Ai Malik! – Ela disse com a voz arrastada – Pela última vez: Eu não me importo que você não consiga dormir com mais nenhuma garota daquele colégio. Eu não me importo com nada que venha de você.
Meu estômago revirou e eu a apertei com um pouco mais de força, e dessa vez ela gritou. Num movimento rápido, subiu um dos joelhos e me atingiu bem nas partes, se é que me entende. Caí para o lado, gemendo. Alice xingava baixo e girava os pulsos com cara de dor. Depois um sorriso malicioso tomou conta de seu rosto, ao ver o meu estado.
- É – Ela riu – Parece que agora realmente você vai virar um broxa. – Disse por fim e gargalhou, saindo de seu próprio quarto.
- Nunca mais olha na minha cara. – Murmurei, me contorcendo. Ela sorriu.
- Será um prazer.

Leeds, 2007.

- Onde é o banheiro mais próximo? – Disse ofegante e Stacey riu, esfregando seu corpo contra o meu. Estávamos em uma arquibancada quase cheia, e ela rebolando no meu colo enquanto me beijava. Tudo bem que ela era gostosa e tudo mais, mas aquilo estava ficando bastante constrangedor.
- Tem o vestiário dos times – Ela disse beijando meu pescoço. Sorri malicioso.
- STACEY! – Ouvi aquela voz irritante e abri os olhos. Era ela mesma. Bufei.
- Oi, Lice! – A garota pulou do meu colo e se arrumou, sem graça.
- Pro alongamento, agora! – Lice rolou os olhos brava enquanto arrumava seus cabelos em um rabo de cavalo. – Se você tiver uma torção no meio da partida, eu juro que quebro sua cara.
Como ela era educada, minha nossa! Poderia dizer “Juro que substituo você por outra oxigenada burra”, mas não! Ela tinha que agir como se mandasse em tudo. Na verdade ali ela mandava, ela era capitã das líderes de torcida. Até hoje, no caso. Ela tinha renunciado ao cargo por causa do teatro. De cheerleader a Julieta, grande evolução. Era final do campeonato de futebol, estávamos em Leeds, no colégio dos adversários. Eu odiava futebol, mas os caras também vieram, e eu tinha a Stacey pra me animar um pouco.
- Desculpa. – Vi Stacey murchar e saí do meu transe. Alice rolou os olhos.
- Que seja. – Ela murmurou como se fosse para si mesma, e Stacey nem me deu tchau, apenas desceu as escadas correndo em direção ao resto da equipe. Lice me olhou de sobrancelha erguida. – Malik. – Disse, com um sorrisinho forçado, e eu ri.
- Fala, docinho. – Sim, aquele papo de nunca mais olhe na minha cara não durou duas semanas. Só o tempo suficiente para ela ter se revoltado com algo que eu disse tacado uma bola na minha cabeça. Mais uma vez, um poço de delicadeza.
- Pare de desencaminhar a Stacey, ela já é péssima, mas estamos sem saltadoras. Não me irrite. – Ela disse apontando o dedo e eu gargalhei.
- Não tenho culpa se você não cuida bem das suas oxigenadas, Alice.
- Lice, corre aqui! – Ouvi Bruna gritar com vários pompons em mãos e fiz uma careta. Alice apenas virou e foi embora, me deixando sozinho na arquibancada. Em dois minutos Louis chegou – Ele estava namorando uma líder de torcida, uma tal de Lucy, que era morena, coisa rara naquela equipe - Hazza veio com ele e Niall tinha ficado dando em cima das cheerleaders do time adversário. Ficamos conversando qualquer besteira até que o jogo iniciasse.

Go, Lions! Go, Go, Lions!
Quem é seu Lion favorito?
JOSHUA!
Go Go Joshua!

- Go Go Joshua!
Imitei com a voz afetada e Niall gargalhou. Ao contrário do que eu torcia secretamente, o time do colégio estava ganhando, 3x0 na casa do adversário, em uma final... É óbvio que o Joshua Savage, capitão dos Lions - que parecia mais um modelo com aqueles cabelos voando de lá pra cá - tinha feito dois dos três gols. Não me chamem de gay, mas aquele idiota era realmente bonito. Cento e dois por cento das garotas do colégio sonhavam em dormir com ele. Mas ele não podia, claro que não. Ele tinha dona. Isso mesmo, adivinhem? Alice Styles. O capitão do time com a capitã das cheerleaders. Típico. Fim de jogo e todos começaram a pular ao meu redor, inclusive Hazza, que parecia realmente empolgado. Papéis prateados caíram sobre nossas cabeças, e eu vi Josh – como ele era chamado – Correr em direção a Alice. Ele poderia ter escorregado, seria tão legal. Mas ele não escorregou, e ela também estava correndo. Como naqueles filmes melosos de romance, ela pulou em seu colo, cruzando as pernas ao redor de sua cintura, e eles trocaram um beijo de cinema. Meu estômago revirou e eu fiz uma careta, sem nem saber porque. Olhei para o lado e vi a expressão de Hazza mudar. Qual era o problema dele? Devia saber da reputação da irmã, então porque parecia tão surpreso? Parei de pensar no que não devia quando Stacey surgiu na minha frente – Parecia ter brotado do chão – Já me beijando. Correspondi ao beijo já pensando que ela estaria animada para comemorar, e ri sozinho.

Eu não gostava de festa com pessoas populares. Tudo bem que era engraçado ver aquelas riquinhas perderem a linha, os brutamontes brigarem entre si, mas definitivamente não era a coisa que mais me agradava no mundo. Stacey tinha ido ao banheiro com as amigas, coisa que eu me recusei a entender anos atrás, esse lance de banheiro com companhia. Louis nem tinha vindo, tinha ido comemorar a sós com Lucy. Certo ele. Niall e Hazza deviam ter se arranjado com algumas garotas por aí. Esperei que Stacey voltasse, e ela começou a falar sem parar. Ela era irritante, a voz dela me irritava e eu não estava bêbado o suficiente pra agüentar aquilo. Saí atrás de algo mais forte, e vi Lice sentada no colo de Joshua enquanto conversava com Bruna e o namorado dela, o goleiro do time que eu não lembrava o nome. Ela parecia ter um ataque de riso de algo que a amiga estava dizendo. Chacoalhei a cabeça e tirei meus olhos de lá, porque diabos eu estava os encarando mesmo? Fui até a cozinha, peguei um copo cheio de vodka e virei. E virei mais alguns outros, assim que Stacey me encontrou. Já estava sentindo meu corpo formigar, aquilo não era nada bom.
- Eu vou pra casa. – Disse com a voz arrastada e não ouvi o que ela disse, mas girei as chaves do carro nos dedos. Saí cambaleando, não vi nenhum dos garotos, nem procurei. Acionei o botão que abria a porta do carro e tentei acha-lo entre tantos. Olhei para trás e vi que Lice discutia com Joshua. Bruna e o goleiro estavam atentos a tudo. Josh a puxou pelo braço, ela o com força e para a minha surpresa, veio até mim. Pisquei os olhos com várias vezes.
- Você não vai dirigir nesse estado, Malik. – Ela puxou a chave da minha mão, mas não com força suficiente para arrancar. Segurei ainda mais forte, rindo.
- Quem vai me impedir, você? – Gargalhei e ela bufou.
- Sim. – Opa. Por essa eu não esperava. – Dá essa chave, eu vou te levar.
- Que? – Definitivamente eu estava mais bêbado do que eu pensava. Alice Styles preocupada com meu estado? Não, aquilo não estava acontecendo.
- Anda Malik, dá a porcaria da chave! – Ela disse mais alto e eu olhei para suas pernas descobertas. Ri malicioso.
- Belas pernas. – Ouvi minha voz de tarado e ri mais alto. Lice girou os olhos e pude perceber que ela reprimiu o riso.
- Pervertido!
- Mas é verdade! – Não, eu não estava falando isso! Dessa vez ela riu alto.
- Cala a boca. – Disse baixo e eu poderia estar louco o suficiente, mas acho que vi suas bochechas corarem.
Sorri sozinho e atravessei a rua até meu carro. Ela estava logo atrás de mim. Bufei.
- Eu vou dirigir, volta pro seu capitão, anda! – Disse impaciente.
- Você não sabe nem o que tá falando, seu idiota! Não vou deixar você dirigir assim!
- Por quê? – Perguntei e ela suspirou.
- Porque... Porque meu irmão gosta de você e porque a Stacey é muito nova pra ficar sem namorado! – Ela disparou e eu gargalhei, entrando no carro.
- Quem é o namorado da Stacey?
Foi a última coisa que eu disse, rindo alto, antes de arrancar cantando pneus. Olhei pelo retrovisor e não sei como – Ela devia ser ninja ou coisa do tipo – Mas seu Audi estava atrás do meu carro. Buzinei, impaciente. Mas ela continuou me seguindo. Coloquei a cabeça pra fora da janela e virei pra trás, gritando:
- Pára de me seguir, porra!
- Zaza! – Ela gritou, e eu virei para a frente. Não consegui frear, meu carro foi direto numa árvore. Bati a cabeça com força no volante e senti meus olhos girarem, procurando algum foco. Eu estava perdendo os sentidos. Ouvi o barulho da porta abrindo ao meu lado e alguns gritos desesperados. Dela.
- Zaza, olha pra mim por favor! Zaza! – Ela gritava, e do nada a dor em meu rosto parecia pequena, meu coração parecia que ia explodir. – Zaza, por favor... – Ela repetia, e eu ouvi o barulho das teclas do celular dela.
- Lice... – Minha voz saiu fraca, e eu consegui levantar a cabeça, ainda completamente tonto. Ouvi o barulho de algo caindo no chão, e em seguida sua voz estava próxima de mim, baixa, chorosa.
- Vai ficar tudo bem... – Ela murmurou – Fique calmo.
Abri os olhos devagar, e a vi abaixar pra pegar o celular.
- Eu tô bem. – Disse baixo – Me leva pra casa. – Pedi, vendo duas Alice’s em minha frente.
- Eu vou ligar pra uma ambulância, é melhor e... – Ela ia dizendo e eu a interrompi.
- Não, eu estou bem, só estou um pouco tonto, juro. – Disse e ela suspirou alto.
- Consegue se mexer? – Perguntou, sua voz tão baixa e doce que nem parecia ela. Eu podia ver o desespero em seu olhar. Sorri de canto, involuntariamente.
- Você me ajuda?
Disse jogando as pernas pra fora do carro e ela assentiu com a cabeça. Foda-se meu orgulho. Lice me ajudou a levantar e a andar até seu carro, que estava quase do lado do meu. Não lembro exatamente o que ela foi falando no caminho, mas percebi que ela tentava me manter acordado, porque eu tinha batido a cabeça. Chegamos até o hotel onde todos estávamos hospedados, e ela subiu até seu quarto, me levando meio sem jeito. O perfume dela era bom, mas eu nunca iria admitir isso. Sentei em sua cama e ela correu, arrumando seu cabelo em um coque. Meus sentidos estavam voltando. Ela veio com uma caixa de primeiros socorros.
- Você tem certeza que não quebrou o nariz? – Perguntou baixo e eu ri. Meu nariz realmente devia estar parecendo uma merda. Mas não doía.
- Tenho. Tá tão feio assim? – Perguntei e ela riu.
- Razoável. Vou precisar limpar esse corte, vai arder.
Disse com um algodão na mão e eu fiz careta. Lice se aproximou do meu rosto, e de repente meus olhos ganharam foco novamente. Puta merda, ela era muito linda. sua respiração calma e quente perto da minha boca fez com que eu mordesse o lábio sem querer, mas ela não reparou. Segurou meu rosto e passou algo que ardia muito na minha bochecha. Arfei e apertei sua cintura. Ela riu, e eu fiquei vermelho.
- Tudo bem. – Ela murmurou, sem olhar pra minha mão, e continuou o que estava fazendo.
Minha cabeça doía feito o diabo quando eu acordei naquela manhã. Xinguei todos os palavrões possíveis suspirei. Eu não lembrava exatamente de como tinha chegado ali, mas sorri ao lembrar do jeito que Lice havia me tratado. Tomei um banho e olhei meu rosto, não estava tão ruim, tinha um curativo na bochecha. Eu não sabia porque, mas senti meu coração bater mais forte, e fiquei com medo daquilo. Me troquei rapidamente e corri para o hall principal. Muita gente estava indo embora. Avistei Alice com algumas meninas e sorri, indo até elas. Ela saiu do meio das garotas e veio até mim.
- Não fala comigo, Malik. – Disse baixo, sua voz era de raiva.
- Mas... O que foi que eu fiz? – Eu disse, assustado. Ela abaixou o olhar, percebi que tinha chorado. Aquilo deu um nó na minha garganta.
- Você existe. – Disse simplesmente e saiu da minha frente, mas parou – Ah! A chave do seu carro está com o Horan.
Então ela partiu, e eu fiquei com cara de nada, no meio do saguão do hotel. Andei meio desnorteado entre as pessoas e ouvi Bruna, sua amiga, comentando com uma menina.
- O Joshua terminou com a Lice por causa daquele idiota. Ela não devia ter ido atrás dele. Ele que morresse no primeiro poste. – Disse, olhando pra mim, e eu entendi tudo. Até tentei falar com Alice uns dias depois, mas ela não me ouvia. Então começamos a nos odiar de novo. Afinal, não era um gesto daqueles que ia mudar muita coisa. Ela não queria que mudasse, então, pra mim estava ótimo daquele jeito. Alice Styles volta pra lista negra. Fim de papo.

Londres, 2008.

Ouvi o telefone tocar e fiz um esforço enorme pra tentar achar que aquilo era um pesadelo. Mas não era. Quem diabos liga na casa dos outros quatro da manhã numa quarta feira? Puta que pariu! Cocei os olhos e tentei focar no visor do celular. Hazza.
- Que é, cacete?
- Zaza, eu preciso da sua ajuda! – Hazza disse e sua voz era realmente preocupada. Quando vi já estava sentado e preocupado também.
- O que aconteceu? – Perguntei, com a voz meio estranha.
- A Lice sumiu, dude! E tá chovendo pra caralho, minha mãe tá preocupada e... – Ele continuou a falar, mas eu ri. – Puta merda Malik, dá pra você ser meu amigo uma vez na vida? – Outch! Ameaçar a amizade é golpe baixo.
- Desculpe, dude... Mas eu achei que fosse normal a Alice sumir! – Eu realmente achava, diga-se de passagem.
- Normal é, mas hoje ela ligou dizendo que estava voltando da casa dos tios da Gabriella, que é a uns quarenta minutos daqui... Ela ligou meia noite, são quatro da manhã e tá essa puta chuva, dude, eu vou sair pra procurar, falei com o Louis e o Niall e eles vão ajudar! Posso contar com você?
Suspirei. Até o Niall? Não devia ser nada, nunca era nada. Alice amava fazer o Hazza arrancar os cabelos por porra nenhuma. Mas ele parecia realmente preocupado dessa vez. Suspirei, derrotado.
- Tô aí em cinco minutos.
Realmente estava chovendo muito, com trovões e tudo mais. Fiquei com dó da Sra. Styles, ela estava desesperada e o Hazza também. Eu ficaria realmente puto se fosse só mais uma gracinha da Alice. Mas eu não sabia porque, eu sentia que não era. Hazza foi procurar com Niall, porque achamos que ele não tinha condições de fazer isso sozinho. Louis e eu nos separamos, cada qual com um carro. Comecei a andar pelos lugares improváveis, já que Alice podia ser tudo, menos previsível. Rodei cinqüenta minutos com o carro, já estava longe e com medo de nem saber voltar. A visibilidade tava uma porcaria. Liguei para os caras, mas nem sinal, então me obriguei a continuar procurando. Não era algo que eu soubesse explicar, mas eu já não me movia mais por apoio ao meu amigo ou a mãe dele. Eu queria encontra-la. Eu estava preocupado. Aquilo era ridículo, mas era um fato. A chuva fazia um barulho meio medonho contra o capô do carro, e eu parei em um posto de gasolina para abastecer. Entrei na loja de conveniência pra comprar uma água, e enquanto pagava, ouvi os comentários das funcionárias.
- Aonde isso? – Uma delas parecia assustada.
- A uns cem metros daqui. – A outra respondeu, com a mesma cara de espanto. – A garota realmente parecia mal, mas o cliente que passou não teve coragem de parar. Poderia ser uma emboscada, você sabe como anda essa cidade e...
Não consegui ouvir mais nada. Garota. Mal. Alice. Saí correndo e larguei a água, o dinheiro, tudo em cima do balcão. Cem metros pra que lado? Pensei rápido e lembrei que não tinha visto nada do lado que eu vim. Saí correndo na chuva grossa, ventava muito e estava muito frio. Quase não passava carro nenhum ali aquela hora. Continuei correndo, e então limpei meus olhos.
- Alice! – Gritei e fui até onde ela estava. Eu senti meu coração acelerar e meu corpo inteiro tremer ao avistá-la caída em um gramado vazio. – Alice! – Repeti alto, segurando seu corpo em meu colo e sem querer, a chacoalhando. Seus olhos se abriram, perdidos em qualquer lugar, e fecharam novamente.
- Zaza... – Ela disse muito baixo, um sussurro. Minha cabeça girava.
Lice estava completamente gelada, seus lábios estavam arroxeados. Perguntei a mim mesmo quanto tempo ela estaria vagando na chuva, mas afastei o pensamento rapidamente. Eu precisava tirar ela dali.
- Lice, você tá me ouvindo? Lice! – Repeti, segurando seu rosto entre mãos. Ela não respondeu, e eu fiquei mais desesperado. Minha voz falhou. – Eu vou salvar você. Eu prometo.
A peguei nos braços e ela estava mole, seus braços escorregaram pra baixo e sua cabeça também. Senti uma lágrima escorrer em meu rosto, meu coração não batia normal. Eu não queria pensar naquilo, não queria. Ela não podia. Ela não faria isso. Não pensei naquela palavra, e quando vi, eu estava chorando feito um idiota com ela em meus braços. A sorte é que estava chovendo e não tinha ninguém ali, o que era bem menos constrangedor. Meu choro se transformou num soluço, a medida que eu andava mais rápido. Quando cheguei no posto, as mulheres vieram correndo, espantadas, mas eu não consegui entender o que diziam. Eu não ia deixar ela... morrer. Suspirei, ainda alheio a tudo o que falavam e a coloquei no banco do carro. Abri o porta malas correndo e peguei um casaco que tinha deixado lá, tentei colocar nela, mas minhas mãos tremiam absurdamente. Senti alguém tocar meu ombro, era uma das moças da loja, com mais dois casacos.
- Valeu. – Disse ainda tremendo e peguei. Ela me encarou desesperada.
- Você a conhece?
Fiz que sim com a cabeça, e ela começou a enrolar Lice com as blusas. Peguei o celular no porta luvas, mas não tinha sinal. Eu também não conseguiria discar. Não lembro como agradeci as duas, se é que agradeci, só vi meu dinheiro e a água voando pro banco traseiro do carro.
- Moço... – Uma delas fazendo sinal com a cabeça e eu olhei pra trás. Lice tinha aberto os olhos de novo. Dei a volta no carro e corri até ela, segurando seu rosto. Percebi que ela se esforçava pra tentar dizer alguma coisa, então interrompi rapidamente. - Não fala nada, fica quieta... Eu vou cuidar de você. Vai ficar tudo bem. – Disse, tentando parecer calmo, mas minha voz mal saía. – Promete pra mim que você não vai... – Parei no meio da frase. Ela sorriu, de olhos fechados.
- Eu não vou morrer. – Disse com a voz muito baixa e eu suspirei aliviado, e não sei porque, mas eu beijei sua testa – Fica calma.
- Você que tá nervoso. – Ela sussurrou e eu não pude conter o riso. Até nessas horas ela consegue ser assim? 


CONTINUAA AINDA HOJE LIMDAS

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